quarta-feira, 14 de julho de 2010

Aonde?


Aonde o linho
da minha pouca idade?

Aonde a febre
da fenda mais aberta?

Aonde a memória
do que invade?

Aonde o mais que esqueço
em tua perca?

Aonde a cama
o sangue
Aonde o ventre - o esperma?

O espasmo roto
Aonde
em minha raiva?

Aonde o ferro
das ilhargas certas?

E o sangue do Inverno
que se abate?


IN:Educação Sentimental, 1975.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Absorta não


Absorta não
melhor: adormecida
Neste rigor de nada acreditar

Nesta imensa vastidão
sem vida
que uso sempre sem nunca a encontrar

Singular
em mim é a vontade
de perseguir os peixes da montanha

na ácida alegria de tomar:

este ácido veneno
este ócio
este ávido espelho

In: Educação Sentimental, 1975.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Educação sentimental

Põe devagar os dedos,
devagar...

carrega devagar
até ao cimo

o suco lento que
sentes escorregar
é o suor das grutas
o seu vinho

Contorna o poço,
aí tens de parar,
descer, talvez,
tomar outro caminho...

Mas põe os dedos e sobe,
devagar...

Não tenhas medo
daquilo que te ensino...




In: A Educação Sentimental, 1975